Em uma visita ao ortopedista no mês passado, ouvi pela primeira vez o termo “sarcopenia”. Achei que fosse uma doença que faz o pênis cair, mas é muito pior. Essa síndrome causa a perda gradual da musculatura e acomete todo ser humano a partir dos 30 anos. Ou seja, há dez anos meus músculos começaram a derreter sobre o esqueleto e sequer me mandaram um sinal de que isso estava acontecendo. Foi só de alguns anos para cá que comecei a notar o estrago.
Outro dia, enquanto sacolejava em uma estrada de terra, minha filha de seis anos olhou para mim e perguntou, inocente: “Por que as suas coxas balançam mais que as minhas?” Minha vontade era gritar: “Daqui a 30 anos você descobre”. Se “sarcopenia” fosse a queda gradual do pênis, não seria tão grave. Para isso já existem Viagra, bombas a vácuo, próteses penianas. Mas o braço, a bunda, quem levanta?
Outras surpresinhas vieram no pacote sarcopênico. Sem músculos para aguentar minhas corridas movidas a muita ansiedade, o joelho direito também pediu demissão. De brinde, veio uma cirurgia de menisco e, desde então, sair do carro se tornou meu esporte radical. Basta pisar o pé esquerdo no chão para sentir que meu joelho vai desencaixar. Agora, abro a porta do carro, dou uma volta ao redor do meu corpo para pisar com o pé direito primeiro. Melhor dar a impressão de que tenho TOC do que sentir aquela fisgada.
Tentando evitar entrar na faca pela segunda vez, encarei o remédio inevitável para a sarcopenia: a musculação. A contragosto, fui parar em uma academia que é uma caixa preta com neon azul (alguém me explica o lance do neon azul?) e estou malhando. Ou melhor, treinando. Malhar é coisa de quem tem sarcopenia.
Há meses levanto pesos como o Arnold Schwarzenegger, corro com uma bola pesada nas costas emitindo sons guturais como uma neandertal moderna. To-do san-to di-a. Tomo um pó de proteína batido com leite que tem gosto da areia que vem nos tênis da minha filha depois da pracinha. E o que acontece? Nada. Continuo igual, e isso é motivo de muita comemoração. Não pretendo subir no pódio das gostosas, se nem nos anos 2000 fui agraciada com o título de Miss Bumbum.
Meu plano é modesto: não deixar os músculos despencarem de vez. Por que, na sequência, quem cai na rua é você. “Ah, mas envelhecer tem suas vantagens.” Quem diz isso está tentando te vender plano de previdência. Envelhecer só é bom porque significa que você continua vivo. Mas é frustrante não poder mais jogar capoeira porque tem impacto, não poder fazer uma aula teste de axé porque o joelho grita mais que a música na caixa de som.
É frustrante sentir que o corpo deixa de acompanhar a mente. Há alguns anos, conheci uma bailarina aposentada do Teatro Municipal. A sexagenária me contou que ainda repassava as coreografias na cabeça. Por sorte, posso exercer minha profissão até o último dia da minha existência. Tudo o que preciso fazer é cuidar um pouco do corpo, para ele conseguir segurar a cabeça. Essa sim, ao contrário do resto, tem sérias dificuldades de envelhecer. Segue fazendo piadinhas com qualquer palavra que lembre “pênis”, como se tivesse 12 anos de idade. Ainda bem.
