“Recentemente, minha mãe me contou que meu pai a traiu quando eu era mais jovem. Ela me garantiu que o perdoou há muito tempo e que eles resolveram isso na terapia de casal. Ela disse que eles têm um bom casamento e cresceram muito desde então, mas desde que ela me contou, não consegui superar isso. Não quis vê-lo, e sinto que algo se quebrou dentro de mim em relação a ele, mesmo que sempre fôssemos próximos. Não sei o que fazer, se é que devo fazer algo. Alguma sugestão?”
Esta pergunta de uma paciente toca na profunda decepção que podemos sentir quando as ações de alguém que amamos entram em conflito com nossos valores –mesmo quando não estamos diretamente envolvidos. Revelações assim podem ser particularmente difíceis quando envolvem um dos pais, tornando difícil superar sentimentos de mágoa ou traição.
Quando estamos crescendo, nossos pais podem parecer infalíveis, incapazes de tomar decisões que vão contra nossas crenças mais profundas. Nos orgulhamos de seus sucessos e sentimos vergonha quando falham. Nesse sentido, nossas identidades estão entrelaçadas com quem eles são, as decisões que tomam e as vidas que levam.
Para minha paciente, as ações de seu pai destruíram a imagem que ela tinha dele. Ela nunca fez o que ele fez, nem poderia imaginar fazê-lo. Ele traiu não apenas sua mãe, mas também as crenças da paciente sobre quem ele é.
Esse tipo de desilusão pode ser dolorosa, mas há maneiras de lidar com os sentimentos de traição e angústia. Os passos a seguir podem ajudar, especialmente em casos onde o ato não é totalmente imperdoável, mas ainda assim conflita profundamente com valores pessoais.
Considere a pessoa como um todo
As pessoas não são definidas por um único ato como sendo boas ou más. Quando nos sentimos decepcionados por alguém que amamos, pode ajudar a ter uma visão mais ampla –reconhecendo suas imperfeições, mas também seu valor. Minha paciente era muito próxima de seu pai, o que pode sugerir que ele tem muitas qualidades que ela admirava. Esses atributos também podem ter ajudado sua mãe a perdoá-lo e a se sentir motivada a preservar o casamento.
Examine suas próprias motivações
A decepção muitas vezes surge de um valor central sendo abalado. Culturalmente, muitas vezes vemos casos extraconjugais como uma ofensa imperdoável –cruzou a linha, está fora. A maioria de nós valoriza a fidelidade no casamento, e a infidelidade geralmente causa à outra parte uma dor e uma ruptura enormes. Minha paciente provavelmente acredita que perdoar seu pai significaria desculpar algo que poderia ter destruído o casamento de seus pais e o lar.
Ao identificar qual valor foi perturbado, podemos refletir se é um limite absoluto ou se estamos dispostos a equilibrá-lo com outros, como perdão, compreensão ou manutenção dos laços familiares.
Tenha uma conversa honesta
Se possível, falar diretamente com a pessoa que te decepcionou pode ser terapêutico. Expressar como as ações dela te afetaram pode proporcionar clareza, resolução ou até mesmo um senso de fechamento. No entanto, esteja preparado para a possibilidade de que ela não queira discutir o assunto, ou que suas respostas não tragam a resolução que você busca.
Se uma conversa aberta não proporcionar fechamento, então a aceitação pode ser a resposta. Você pode ter que reconhecer que o comportamento não foi sobre você, mas sobre eles e suas lutas.
Veja-os como fazendo o melhor que podem
Pode ser empoderador terminar ou limitar relacionamentos com familiares ou amigos cujos valores conflitam com os nossos. No entanto, às vezes a posição mais empoderada é vê-los como fazendo o melhor que podem, dadas suas próprias criações, classe social, predisposições genéticas ou casamentos. Embora possamos nos definir, quando somos crianças, através dos valores de nossos pais, podemos escolher aqueles que abraçamos e aqueles que deixamos de lado quando nos tornamos adultos.
As ações de uma pessoa não definem o amor ou os relacionamentos
Os erros de um dos pais podem parecer profundamente pessoais, moldando como você se vê e vê o mundo. Se seu pai traiu sua mãe, você pode se sentir tentado a acreditar que todos os homens – ou todos os relacionamentos – são indignos de confiança. Mas isso não é verdade. As ações de uma pessoa não definem a natureza do amor ou a integridade dos outros.
Reconstruir a confiança leva tempo
Quando alguém que amamos nos decepciona, a cura não acontece da noite para o dia. Permita-se tempo para processar suas emoções e chegar às suas próprias conclusões. No entanto, tente não evitar a situação indefinidamente –sentimentos não resolvidos podem se aprofundar com o tempo, tornando-os mais difíceis de enfrentar mais tarde.
As pessoas são complexas, capazes tanto de erros quanto de crescimento. Com o tempo, você pode descobrir que a aceitação, em vez da autoproteção ou do julgamento, é o caminho que traz mais paz.
