Um cientista francês foi impedido de entrar nos Estados Unidos neste mês por causa de uma opinião que expressou sobre as políticas do governo Trump em relação à pesquisa acadêmica, segundo o governo da França.
Philippe Baptiste, ministro francês do Ensino Superior e da Pesquisa, classificou a ação de preocupante. “A liberdade de opinião, a pesquisa livre e a liberdade acadêmica são valores que continuaremos a defender com orgulho”, disse Baptiste em um comunicado. “Defenderei a possibilidade de todos os pesquisadores franceses permanecerem fiéis a esses princípios, em conformidade com a lei, onde quer que estejam no mundo.”
Baptiste não revelou a identidade do cientista barrado, mas afirmou que o acadêmico trabalhava para o Centro Nacional de Pesquisa Científica, órgão público da França, e estava viajando para uma conferência perto de Houston quando foi detido por autoridades de fronteira.
As autoridades dos EUA negaram a entrada do cientista e depois o deportaram porque seu telefone continha trocas de mensagens com colegas e amigos nas quais ele expressava sua “opinião pessoal” sobre as políticas científicas do governo Trump, disse Baptiste.
Não ficou imediatamente claro o que levou os agentes de fronteira a deter o cientista, por que examinaram o conteúdo de seu telefone ou o que consideraram problemático nas conversas.
Os agentes alfandegários podem inspecionar o celular, computador, câmera ou qualquer outro dispositivo eletrônico de viajantes que cruzam a fronteira, segundo o Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. No entanto, a agência afirma que tais casos são raros. Em 2024, menos de 0,01% dos viajantes internacionais que chegaram ao país tiveram seus dispositivos eletrônicos revistados, segundo o órgão.
O gabinete de Baptiste recusou-se a fornecer mais detalhes sobre o caso, e o Centro Nacional de Pesquisa Científica não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Um porta-voz da Embaixada dos EUA em Paris também se recusou a comentar.
A agência de notícias AFP havia noticiado anteriormente a recusa de entrada do cientista nos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, Baptiste tem sido particularmente vocal ao denunciar ameaças à liberdade acadêmica nos EUA, onde cortes de financiamento e demissões promovidos pelo governo Trump atingiram instituições de ensino superior, pesquisa científica e até mesmo o próprio corpo científico federal.
O ministro também incentivou universidades e institutos de pesquisa franceses a acolher pesquisadores que buscam deixar os EUA.
“A Europa deve estar presente para proteger a pesquisa e receber talentos que possam contribuir para o seu sucesso”, escreveu Baptiste nas redes sociais após se reunir com seus homólogos europeus em Varsóvia, na Polônia, na quarta-feira, para discutir “ameaças à pesquisa livre nos EUA”.
